Pedro da Costa Júnior: “O novo mundo é o mundo dos BRICS”

Volta e meia a gente vê notícias do conflito que, lá da Europa Oriental, tomou conta da imprensa brasileira e internacional. Mas por quê fala-se tanto da Guerra da Ucrânia? Se você já se fez essa pergunta, essa é a oportunidade de responde-la.

Pedro da Costa Júnior é professor de Relações Internacionais, autor do livro O poder americano no sistema mundial moderno: colapso ou mito do colapso? e doutorando em Ciência Política na USP. Com uma didática irrepreensível, aqui ele explica o pano de fundo da guerra e mostra os motivos pelos quais você deveria olhar para ela com mais atenção.

O acordo assinado por China e Rússia em 4 de fevereiro de 2022 é uma evidência do nascimento de um novo mundo – e vai muito além do que hoje acontece na Ucrânia. O poder se desloca no tabuleiro da geopolítica internacional e novos ventos reservam um outro lugar para os países emergentes, inclusive para o Brasil.

Acompanhe a conversa com o professor Pedro, que também é nosso parceiro e oferece um curso sobre o tema aqui no Instituto Racionalidades. Garanto que você vai se deliciar com a fluidez em um assunto tão complexo. Afinal, um bom interlocutor faz toda a diferença – e o Pedro faz qualquer opacidade ganhar forma. Boa leitura!

Por Clarissa Henning

Instituto Racionalidades: Em entrevista ao jornalista Luis Nassif, o senhor disse que a antiga ordem mundial acabou em um espaço de 20 dias – ainda que os processos que culminaram nesse período tenham uma história mais longa. Quais foram os primeiros sinais dessa crise?

Pedro Costa Júnior: Hoje essa é a pergunta mais importante das relações internacionais. Nós estamos vendo as placas tectônicas das relações internacionais e do poder mundial se movendo. É uma transição do centro gravitacional do poder, da hegemonia global. Tem um quadro do Salvador Dalí que eu gosto muito chamado A criança geopolítica observa o nascimento do homem novo. Esse é um quadro de 1943 e captura bem o espírito do tempo. Publiquei um texto que foi reproduzido por muitos veículos, inclusive internacionais e, por acaso, a republicação no site do Nassif foi ilustrada com essa obra. Ela mostra um homem nascendo do planeta – que é redondo, ao contrário do que alguns insistem em dizer – e o sangue escorre. A gente vê a África e a América Latina, e tem uma criancinha segurando a mão de uma terceira pessoa, supostamente a mãe ou alguma coisa assim. Dalí chama essa criança de criança geopolítica e isso é muito interessante. O artista olha para aquele momento como um momento de transição geopolítica do poder. É o desfecho da Segunda Guerra Mundial, um momento extremamente perturbador e caótico. É o fim de uma era e o homem que está para nascer está fazendo força, é como uma criança nascendo do ventre da mãe, como se estivesse rompendo uma bolsa. A criança está assustada, agarrada aos joelhos da mãe, que é um ser que também pode ser meio andrógeno. O interessante é justamente a criança geopolítica observando o nascimento desse novo homem e, embora ele faça muita força para nascer, é inevitável que nasça. Ele vai nascer, ele já está nascendo. Esse é o momento que a gente vive hoje. Dalí está falando de uma ordem que foi construída tempos atrás, mas que acabou. Vai nascer um novo mundo e nós estamos assustados com isso, a criança está agarradinha à mãe, se perguntando o que está acontecendo. É a guerra, é o caos, é o nazismo de um lado e o stalinismo de outro… Em seguida chegam os Estados Unidos, com o chamado Mundo Livre, e eles vão fazer a pior experiência do planeta – a bomba de Hiroshima e Nagasaki. Aliás, esse talvez tenha sido o maior ataque terrorista do planeta, eliminando civis, crianças e idosos indiscriminadamente. É o papel do artista, ele consegue antever. O homem novo é o homem da Guerra Fria, é o homem bipolar, da sociedade bipolar. Se ele nascer de um lado do muro, ele será condenado a ser capitalista; se nascer do outro lado do muro, será condenado a ser socialista. A guerra vai ser encerrada dois anos depois por um acordo. Você tem sempre essa trajetória na história das relações internacionais, um grande acordo e uma grande guerra. Isso vai definir por décadas – às vezes por um século – qual vai ser a chamada ordem mundial: quem vai dar as cartas? Depois que o eixo nazifascista é derrotado, os vencedores se sentam à mesa. Roosevelt, Stalin e Churchill desenham o mundo, definindo a tônica do que seria o mundo até 1989, 1991. Quase que em um papel de guardanapo eles começam a definir que um terço do mundo vai ficar sob os auspícios do exército vermelho e os outros dois terços sob a égide do exército anglo-saxão. O que importa é que a guerra saiu do centro do mundo: agora elas passam a acontecer na periferia do capitalismo, na Ásia, na África, no Oriente Médio. Embora elas envolvam as grandes potências, quem morre são cidadãos de segunda e terceira classe. Ali também foram criadas as instituições multilaterais intergovernamentais que vão dar as regras, as leis, os sentidos, a normalidade, a moral, a ética que nós vamos viver nesse novo mundo. O ethos é construído pelos vencedores e é preciso criar instituições para legitimar essas ações. Aparecem a ONU – Organização das Nações Unidas, a Otan – Organização do Tratado do Atlântico Norte, o FMI – Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, a OMC – Organização Mundial do Comércio. Tudo isso vai ser construído entre 1944 e 1950. São os pilares das relações internacionais modernas. Mas entre 1989 e 1991 nós temos uma nova ordem mundial, a ordem mundial pós-Guerra Fria. Nós entramos na Pax Americana – e foi ela que acabou agora, em 20 dias. Claro que são processos longos, mas didaticamente funciona bem. 2022 é o ano que marca o fim da hegemonia americana, do expansionismo sem limites dos Estados Unidos capitaneando a Otan. Nos anos 90 os EUA olham para o mundo e não enxergam limites. Os países da ex-URSS viraram capitalistas, foram dormir socialistas e acordaram ultraneoliberais. Esses foram os anos da humilhação russa, um país que antes da guerra fria tinha mais ou menos 300 milhões habitantes e depois passa a ter 140 milhões. Ela perde mais ou menos um quarto do seu território e entra em uma crise econômica sem fim porque Iéltsin adota profundamente o manual neoliberal. São os anos das privatizações ilimitadas, da mafiocracia russa. A imprensa ocidental chama Iéltsin de democrata, um sujeito que jogou um tanque no parlamento russo para aprovar uma medida! Ele não era democrata, mas um títere de Bill Clinton. A Rússia entra na grande crise econômica de 1998, uma crise análoga à de 1929 nos Estados Unidos. As pessoas não tinham o que comer, era uma miséria sem fim. Os principais teóricos da política externa dos Estados Unidos, como Henry Kissinger, recomendaram não expandir a Otan no leste europeu porque lá na frente isso seria uma tragédia para os ocidentais. Não se deve tomar a Rússia meramente como a Rússia dos anos 90. É um país muito grande, com uma longa história. É um país que por muitas décadas rivalizou com os EUA. É a Rússia de Stalin, de Lenin; de Pedro, o Grande; de Catarina II, a déspota esclarecida; de Tolstói, de Dostoiéviski, do Ballet Bolshoi. Mesmo tendo perdido um quarto do território, ainda é o maior território continental do planeta. Ainda é a segunda força militar do mundo e, em algumas tecnologias, é a primeira. Em termos de ogivas nucleares, numericamente é a maior potência nuclear do mundo. Também é a maior potência energética: petróleo, gás, níquel. Então aqueles antigos falcões norte-americanos percebiam que, embora a Rússia estivesse passando por um momento difícil, eventualmente ela iria se levantar. Mas nos anos Clinton os americanos acharam que o mundo era deles. A Otan foi criada para conter a URSS e o seu contraponto foi o Pacto de Varsóvia. A Otan foi um tratado exclusivamente militar, não tem nada de econômico. Começou com 12 países e hoje tem 30. Nos anos de fraqueza da Rússia basicamente foram incorporados todos os países do leste europeu, países da zona de influência russa. Há uma citação memorável de Joseph Nye em um livro do final dos anos 90 chamado O paradoxo do poder americano, que diz: “Nunca antes na história da humanidade um país teve tanto poder político, econômico, militar e cultural como os Estados Unidos têm no final do século XX. Nem o Império Romano e nem a Inglaterra vitoriana. Esse é um momento único na história da humanidade”. Os norte-americanos entram no século XXI com a certeza de que são os donos do mundo. Ao ganharem a Guerra Fria, não chamam nenhum aliado para estabelecer a nova ordem. Não há tratado algum. O que eles fazem é a Guerra do Golfo, arrasando o Iraque e dando um sinal de força para o resto do mundo em um conflito espetacular. Foi a primeira guerra televisionada ao vivo. Foi a cavalaria tomando conta e deixando claro que não havia contraponto. A URSS não era mais um desafio: eles olhavam para o mundo e não tinha mais ninguém. Ao mesmo tempo, a força era também fragilidade. Algumas pessoas diziam que a Otan não fazia mais sentido porque já não existia socialismo, URSS e Pacto de Varsóvia – mas a Otan não só seguiu existindo como continuou se expandindo. Só que a partir dos anos 2000 tudo muda. Primeiro, pela ascensão de Putin. Ele muda o jogo porque centraliza o poder russo, enfraquece os oponentes, reestatiza as fontes de energia e petróleo que Iéltsin havia privatizado e expurga a máfia russa. É a restauração da economia russa, e também a restauração do exército russo. Nos primeiros 6 ou 7 anos, Putin tenta se aproximar do ocidente, mas os ocidentais jamais vão considerar a Rússia como um país europeu, como um deles. É cômodo considera-la como a grande inimiga – geograficamente, a Rússia sempre será uma ameaça. Na geopolítica, geografia é destino. Putin percebe que a tentativa de aproximação é inútil e em 2007 faz um discurso muito poderoso na Conferência Nacional de Segurança e Defesa em Munique, Alemanha. Ele traça uma linha vermelha, dando claramente um basta ao expansionismo da Otan. Enquanto a águia pousa, o urso ruge depois de um período de hibernação. Mas o ocidente o ignora retumbantemente. No ano seguinte, durante o governo Bush, Cheney manda os falcões republicanos à Geórgia para incorpora-la à Ucrânia. Em questão de semanas, Putin invade a Geórgia e anexa dois territórios e consegue um compromisso, por escrito, de que ela não entraria na Otan. É uma mudança significativa na política internacional. Putin começa a falar de igual para igual com os EUA – e não são qualquer EUA, mas os EUA do Bush, do Cheney, dos falcões republicanos. São os belicistas, os homens do lobby das armas e do petróleo. Há um documentário de Oliver Stone chamado The Putin interviews, maravilhoso, que ajuda a entender tudo isso. Putin fala claramente para aqueles velhos falcões que, caso eles insistam em um escudo de mísseis na zona de influência russa, a Rússia começaria uma guerra armamentista que faria a Guerra Fria parecer um sonho de uma noite de verão. Imagine, 10 anos antes a Rússia estava sendo humilhada pela Chechênia e vivia sob o governo de Iéltsin. O jogo efetivamente mudou. E é bom lembrar que, no mesmo ano, Estados Unidos e Europa viveram a crise dos subprimes: a águia sangrava ainda mais. Putin olha para o mundo e vê a Rússia bem, o Brasil de Lula bem, e China e Índia voando. Então ele e Lula criam os BRICS e mais tarde o G20, que vai se opor ao G8. Os BRICS vão formar um banco – aliás, sediado em Xangai – e um fundo que se opõem ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial. Depois, em 2014, a Rússia invade a Ucrânia porque jamais aceitaria perder o porto de Sebastopol, uma saída para o Mar Negro, que na geopolítica é conhecido como um lago russo. Nada passa por lá sem autorização russa. Para garantir essa saída, Putin anexa a Criméia. Essa guerra de hoje começou aí, em 2014.

Biden é o declínio personificado e com a mente nos anos 90, de um mundo unipolar. Mas o mundo não é mais americano e a realidade se impõe.

IR: Como interpretar o jogo de cena da política internacional sobre a guerra na Ucrânia e de que modo se formou o contexto que a gente vive hoje?

PCJ: Houve uma mudança no governo da Ucrânia, que agora tem uma linha pró-ocidental e que começou a entrar em guerra com o leste do país. Embora isso não seja publicado na imprensa ocidental, essa zona é bombardeada desde 2014. É a chamada região de Donbass. Na mesma época, Putin começa a se aproximar de Xi Jinping, presidente da China. E o grande desafio dos norte-americanos – político, econômico, futuramente militar, hegemônico – se chama China. Independentemente de ser um governo democrata ou republicano, os EUA protagonizaram uma série de erros desde o final da Guerra Fria. E Biden é o declínio personificado e com a mente nos anos 90, de um mundo unipolar. Mas o mundo não é mais americano e a realidade se impõe. Em 1973, Kissinger viu uma rachadura entre China e Rússia e decidiu que a melhor estratégia era trazer um dos dois para o lado dos americanos. Então ele convence Nixon a trazer a China comunista para o lado dos EUA. Naquele ano, o comércio bilateral deles com a China era menor do que o com a Nicarágua. Portanto, era também uma oportunidade de negócios com um mercado consumidor de 1 bilhão de habitantes. Mas a China é uma cultura milenar. Se você olhar para a história em termos de longa duração, a China sempre foi um dos grandes centros do poder mundial. Mesmo Kissinger diz que quando nós, ocidentais, vamos dar lição de moral para os chineses ou os chamamos de emergentes, eles acham muito engraçado. Porque eles não são emergentes, somente estão voltando a ocupar uma posição que sempre foi deles. Eles passaram por um século de humilhações, é verdade. Mas é uma civilização milenar que durante 2 mil anos deu as cartas no sistema internacional. De 1979 para cá, os chineses tiraram 850 milhões de pessoas da pobreza – esse talvez seja o maior fenômeno da humanidade desde a Revolução Industrial. Aqui nós temos um líder operário que tirou 36 milhões de pessoas da pobreza e que é muito festejado por isso. A China tirou 850 milhões em 40 anos! É extraordinário. A China vem crescendo consistentemente a dois dígitos nos últimos 40 anos. É um consenso entre todos os economistas – sejam ocidentais atlanticistas, sejam euroasiáticos – que ela vai ser a maior economia do mundo até o final da década. A questão não é se, mas quando. O dragão apareceu e a arrogância triunfalista dos Estados Unidos não deixou eles perceberem isso. Na cabeça deles, a prosperidade fatalmente levaria a China a ser neoliberal e os habitantes a reivindicarem a democracia neoliberal. Nesse interim, muitas empresas norte-americanas foram para lá aproveitar a mão-de-obra barata e o enorme mercado consumidor. Em toda a campanha de Trump, a palavra mais dita por ele foi “China”, dizendo que traria de volta as empresas e os empregos que a China havia roubado. Diga-se de passagem, obviamente foi um fracasso retumbante.

IR: Como o senhor avalia o jogo das sanções?

PCJ: As sanções econômicas severas ao governo Putin começaram ainda em 2014, com a anexação da Crimeia. Nós falamos que os ocidentais jogam damas e os russos jogam xadrez. Putin começou a aumentar a liquidez russa em ouro porque sabia que as sanções iriam apertar dali para frente. Sai de algo como 200 bilhões na liquidez para mais de 600 bilhões e diversifica as reservas, não só em dólar e em euro, mas em moeda chinesa e outras também. Putin prepara a economia russa e intensifica a aproximação com os chineses. Por seu turno, Trump faz uma espécie de Kissinger às avessas: declara guerra comercial à China. Esse foi o pior erro estratégico que ele poderia fazer, porque joga a China no colo da Rússia, e vice-versa. É exatamente o contrário do que Kissinger fez nos anos 70. Os grandes geopolíticos norte-americanos da época e calibre de Kissinger diziam que a única coisa que poderia derrotar os EUA era, se um dia, a Rússia se aliasse à China – mas eles tinham certeza de que nunca aconteceria. Só que Trump faz exatamente isso e nesses 4 anos de guerra comercial Rússia e China vão se unindo umbilicalmente. Essa ligação produz o documento de fevereiro de 2022 e o mundo não fala de outra coisa – é indubitavelmente o documento mais importante do século XXI. No Brasil, pouquíssimas pessoas o leram. Dizem que a Rússia está isolada: isolada de quem, cara-pálida? A população da Otan representa 12% do mundo. São 37 países que aderiram às sanções, mas muitos não fizeram isso. Israel, por exemplo, que é um aliado histórico dos Estados Unidos, não aderiu. Emirados Árabes, países da África, da América-Latina, não entraram nas sanções contra a Rússia. Quem aderiu são os cães de guardas dos EUA, países que não têm política externa, como Canadá e Nova Zelândia. E Biden não só continua a guerra comercial contra a China como a transforma em uma guerra ideológica, invocando direitos humanos e ambientais – que aliás não são seguidos nem por ele e nem pelos europeus. A Europa está queimando carvão. E os produtores de petróleo como Rússia, Venezuela, Irã – que são também grandes inimigos dos EUA – nunca ganharam tanto dinheiro. As commodities estão lá em cima.

China e Rússia falam de uma nova ordem mundial policêntrica, ou seja, de vários centros de poder. O mundo unipolar cujo centro era os EUA acabou

IR: Como interpretar a afirmação de que a Rússia está isolada?

PCJ: A gente ouve que a Rússia está isolada e isso é claramente uma falácia. Se você está no colo da China, como pode estar isolado? Além disso, a Índia é uma rival histórica da China, mas é uma aliada histórica da Rússia, que é seu principal fornecedor de armas. A Rússia tem não só a China como mercado consumidor, mas também a Índia. Juntas, China e Índia são 42% do planeta. E só estou falando de dois países, mas a Rússia tem uma série de saídas que não são ventiladas na imprensa ocidental. O documento do dia 4 de fevereiro, assinado por China e Rússia, é a tônica das próximas décadas nas relações internacionais. É uma parceria militar, econômica, estratégica, tecnológica e diplomática, é uma amizade sem limites. É de uma força extremamente poderosa, uma aliança entre a segunda economia do mundo e o segundo exército do mundo. E eles estão desafiando o ocidente e o expansionismo da Otan, dizendo “terminou o tempo de vocês, esse mundo acabou”. China e Rússia falam de uma nova ordem mundial policêntrica, ou seja, de vários centros de poder. O mundo unipolar cujo centro era os EUA acabou. Mas palavras, nas relações internacionais, não dizem nada. Desde sempre, só um documento não diz coisa alguma. O que vale é a força. O documento tem que ser amparado na força – então foi tudo muito bem preparado. As declarações dos ministérios exteriores da Rússia e da China de uns 5 anos para cá são feitas quase que em conjunto, na mesma linha. É coordenado, como um relógio. A primeira pessoa que a China recebeu depois de dois anos de pandemia foi Putin, no dia 4 de fevereiro. Uma imagem muito forte, no primeiro dia das Olimpíadas de Inverno em Pequim. Putin aperta a mão de Xi e, como diria Leonel Brizola, na política o que vale é a foto. Nessa declaração conjunta eles citam a palavra “Estados Unidos” e a palavra “Otan” nove vezes – e todas são repreensões. 20 dias depois o mundo mudou. A guerra na Ucrânia não é um sinal de força qualquer, mas acontece debaixo do nariz deles. Uma coisa é fazer guerra no Vietnã e na Coreia, outra é na Europa. A Europa não é a periferia do sistema mundo. Em 2003 os Estados Unidos declararam que invadiriam o Iraque e basicamente o mundo inteiro repudiou a afirmação de que existiriam armas em território iraquiano. Rússia, França, Brasil. Hoje, o ocidente inteiro é contra a invasão russa na Ucrânia. E o que a Rússia fez? Ela invadiu, com respaldo chinês e em certa medida também indiano – a chamada neutralidade estratégica. Essa é a nova ordem mundial policêntrica. Nela, as decisões devem ser repartidas.

IR: Se os EUA têm tanto interesse nessa guerra, por que não colocam soldados em campo? O senhor acredita que isso ainda possa vir a acontecer?

PCJ: O movimento atlanticista afirma que a Rússia vai perder a guerra, a Ucrânia vai vencer, Zelensky é o novo herói. Mas, mais uma vez, a realidade se impõe. Dia após dia, a Rússia vai tomando os territórios que quer. Nesse momento 80% do exército ucraniano está devastado e os ocidentais – norte-americanos e Otan – fazem o que costumam fazer nessa hora: abandonam os aliados. Não tem um soldado americano por lá, nenhum soldado da Otan, ou inglês, ou francês, ou alemão. E nem vai ter, porque a ideia é desgastar Putin até que o último ucraniano morra. Eles querem vender armas. E embora a imagem de Putin realmente sofra aqui no ocidente, a Rússia não chegou nem perto de perder essa guerra. Quando você ouve na imprensa que a Ucrânia deixou suas posições ou se retirou de Lugansky, não é verdade. A Ucrânia não deixou posição alguma, ela foi aniquilada e varrida de lá. Nenhum exército da Europa pode deter os russos, só o exército dos EUA. Mas essa seria uma guerra total – coisa que ninguém quer. Há um novo homem nascendo e ele está sendo produzido também pela Eurásia. Há uma resistência pesada, é verdade, mas é inevitável que ele nasça. A bolsa já foi rompida: é o parto de um novo mundo.

IR: Por que se diz que o governo Obama privatizou a guerra? E quais foram as consequências desse movimento?

PCJ: Obama leu muito Robert Kegan, mas talvez tenha faltado a leitura de Maquiavel, que diria: “nunca confie nos mercenários”. Mercenários não têm bandeira nem causa, eles seguem o dinheiro. Inclusive há brasileiros que se tornaram mercenários nessa guerra de agora. O professor Sebastião Velasco e Cruz, da Unicamp, escreveu sobre a doutrina Obama. Ele fala da política externa daquele governo e explica muito bem o que é a privatização da guerra. Obama quis tirar os homens do campo de batalha, porque tem um custo muito alto levar tropas americanas à guerra – um exemplo disso é o Vietnã. E mesmo que você não perca, é custoso, tanto logisticamente, para deslocamento e manutenção desses homens em solo estrangeiro, quanto moralmente: a volta desses homens em sacos pretos é um desgaste enorme para o governo. A guerra privatizada é aquela em que você contrata empresas. Assim como há empresas de segurança, há também as que fazem a guerra e que coletam mercenários. Por baixo, mercenários e, por cima, drones que não precisam de pilotos. Mas ao contrário do que muita gente pensa, o grau de precisão dos drones é um problema. Tem um cara sentado em Washington comendo um Big Mac, tomando Coca-cola e apertando botões como se fosse um videogame – e pode atingir uma família de inocentes. Isso gerou o Estado Islâmico, por exemplo. O ISIS não existia antes de Obama. Adolescentes que perderam pai ou mãe atingidos por drones são alvos fáceis de serem recrutados pelo exército islâmico. O professor Velasco e Cruz levanta números dos erros dos drones e é uma calamidade. O soldado passa por um treinamento rigoroso para não matar civis e assim mesmo é terrível, mas o pistoleiro não está nem aí – ao contrário do soldado, o mercenário não responde a uma corte marcial. E a Ucrânia está pipocando de mercenários, que lutam contra o exército mais bem treinado do mundo e os russos, por doutrina, não contratam mercenários.

Zelensky riscou o fósforo em um pavio que já estava lá. E riscou o fósforo com a anuência da Casa Branca, não faria isso sozinho. É uma marionete dos democratas, bancada pelo governo Biden que o transformou em um herói ocidental aplaudido nos parlamentos europeus.

IR: O senhor diz que a mudança constitucional operada pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em 2019 colocou um alvo na testa de cada ucraniano. Quais foram as causas dessa mudança?

PCJ: A mudança da constituição foi o gatilho da guerra. O Zelensky foi muito bem eleito, tinha um discurso integracionista, de união nacional e de pacificação do Don Bass – a região leste e pró-Rússia, que está sendo atacada desde 2014 e onde ele fez uma votação esmagadora. Quando começou a guerra, a popularidade de Zelensky estava baixíssima, algo em torno de 20%. Ele não existia politicamente, era um comediante que foi colocado lá pela máfia ucraniana. Ele intensificou os ataques a Don Bass ao invés de amenizá-los como tinha prometido, com um discurso de “nova política”, na linha “não sou político, acredito em mim mesmo, vou promover a mudança e sou anticorrupção”. E esse novo herói do ocidente foi pego no Panamá Papers, o maior escândalo de paraísos fiscais e corrupção internacional – que aliás lista também o nosso ministro da economia Paulo Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Zelensky está bem acompanhado. Em 2019 ele propõe a entrada da Ucrânia na Otan e muda a constituição para que isso aconteça. No limite, o grande temor do Putin é abrir a janela do Kremlin e ver mísseis da Otan apontados para ele, porque Moscou está muito perto da zona leste e a Rússia trabalha com zonas de influência. A Geórgia, a Bielorrússia, a Ucrânia, são países considerados zonas de influência – e vamos lembrar que a Rússia foi invadida por Napoleão e Hitler, e derrotou os dois. Então, para os russos, é inaceitável. Zelensky riscou o fósforo em um pavio que já estava lá. E riscou o fósforo com a anuência da Casa Branca, não faria isso sozinho. É uma marionete dos democratas, bancada pelo governo Biden que o transformou em um herói ocidental aplaudido nos parlamentos europeus. O ponto fulcral é que a bússola ocidental dos anos 70 se perdeu, o que desaguou na união entre Rússia e China, e é isso o que vai desenhar as próximas décadas. Há algumas semanas o secretário de defesa e o secretário de estado dos EUA, Lloyd J. Austin III e Antony Blinken, visitaram a Ucrânia e declararam que a intensão era desgastar Putin o máximo possível. Isso significa manter a guerra até que o último ucraniano morra. Significa que vão sustentar Zelensky e armá-lo. Mas grande parte dessas armas são interceptadas pelos russos. Além disso, a tecnologia russa assusta a Europa. Putin possui um míssil hipersônico que tem dez vezes a velocidade do som e que pode destruir Londres em 20 minutos. Mas ele disparou esse míssil contra um porão subterrâneo de armamentos e não matou nenhum civil. Os russos são muito sofisticados tecnologicamente em cyber comunicação, ninguém no mundo vence a Rússia nesse campo, a não ser os israelenses. Os russos decodificaram o esquema de comunicação ucraniano na primeira semana da guerra. Então eles sabem quando e por onde chegam as armas e interceptam quase todas. O exército ucraniano está batendo cabeça, estão completamente perdidos.

IR: Essa guerra será longa ou existe chance de um eventual acordo entre EUA, Rússia e China?

PCJ: Desde 2014 a Rússia tenta negociar o respeito a essas zonas de influência. Pensando na situação oposta, se Putin quisesse colocar bombas no México ou no Canadá ninguém aceitaria. Haveria uma resposta, correto? Foi o que aconteceu na crise dos mísseis na década de 1960. Portanto, é uma questão de respeitar as zonas de influência no quadro da geopolítica do poder. O acordo não sai porque não interessa aos ocidentais, aos americanos, que são quem controla Zelensky. Primeiro, eles querem desgastar Putin e, segundo, eles querem vender armas, a indústria armamentista ganha dinheiro vendendo armas. Mas eles estão dando um tiro no pé. Estão colocando Rússia e China no mesmo lugar, de forma a integrar um ao outro umbilicalmente. Além disso, as sanções de guerra têm reverberado mais contra o ocidente do que contra os russos. Estamos assistindo a uma crise inflacionária estrutural e quem sofre com ela, sobretudo, são os aliados dos EUA na Otan, que são os europeus: Portugal, França, Inglaterra, Alemanha… Todos têm sofrido e já há vários protestos nesses países. São governos que sofrem um desgaste muito grande em seus territórios, e nós nem nos recuperamos da pandemia ainda. Há uma crise de estagflação, as commodities dispararam e sem crescimento econômico. É o pior dos mundos. Isso se alastra de forma brutal na Europa ocidental porque ela depende da energia russa – gás e petróleo –, mas atinge o mundo todo, inclusive os Estados Unidos. Eles não estão acostumados com isso, não como nós. Aqui fomos treinados na inflação. Lá, quando ela começa a bater os dois dígitos, o pessoal fica louco. As sanções são contraproducentes porque têm um efeito bumerangue: quando jogam contra os russos, acertam neles mesmos. A popularidade de Biden, hoje, é pior do que a de Trump na mesma época de governo. Enquanto isso, a moeda russa se valorizou, o rublo chegou ao seu maior valor dos últimos cinco anos. Os russos têm uma economia frágil, vivem de commodities, e estas estão exorbitantes. E eles têm saídas, têm todo o mundo Euroasiático que é a parte do mundo que cresce nesse momento. Quando o preço do barril de petróleo dispara, os EUA fortalecem seus inimigos. Os americanos terão eleições parlamentares em novembro e, se Biden perder a fragilíssima maioria que tem, seu governo praticamente acaba no final do ano porque não será capaz de aprovar projetos. A popularidade de Putin, pelo contrário, é maior agora do que quando começou a guerra, está em 84% – e quem diz isso são as pesquisas ocidentais. A do exército russo, hoje, bate os 92%. Mas não há possibilidade de acordo porque não interessa, porque os americanos acham que estão desgastando a imagem de Putin. Ao mesmo tempo, se você assiste a um noticiário chinês, é como se você assistisse o Jornal Nacional às avessas: na China, na Índia, no Paquistão, Putin é um amigo.

IR: A impossibilidade de um acordo aponta para o aumento do número de conflitos bélicos nos próximos anos, inclusive em territórios mais proeminentes nas relações internacionais?

PCJ: Boa pergunta. Eu creio que sim. Agora a gente caminha para um momento de caos porque é a morte de uma velha ordem e o nascimento de outra. Estamos em uma espécie de interregno onde a nova ordem está sendo forjada. Ela está lutando para nascer, mas, por outro lado, as velhas estruturas ainda são poderosas e vão lutar com todas as forças contra esse nascimento. Sem dúvida nenhuma, nós caminhamos para um quadro de mais guerras e mais instabilidades e imprevisibilidades. Mais crises econômicas, mais possibilidades de crises regionais. Mas intelectualmente é também mais instigante até que um novo mundo se faça – e a partir daí teremos um outro período de ordem que vai durar uns 50, 60 ou 100 anos. E depois este também chegará ao seu fim. Mas agora, como diria Gramsci, enquanto o velho ainda não morreu e o novo ainda não nasceu, estamos em um interregno de disputas.

Brasil e Rússia criaram os BRICS. Nós somos o único país das Américas que está aí e o novo mundo – o mundo da China e, em alguma medida, também da Rússia – é o mundo dos BRICS.

IR: Qual é o impacto da nova ordem multilateral e policêntrica para o Brasil? E quais são as expectativas nesse sentido – tanto em uma eventual reeleição de Bolsonaro quanto na possível vitória de Lula?

PCJ: O Brasil tem um papel muito importante nessa nova ordem mundial, sobretudo muito promissor. Sozinho, ele é metade da América do Sul, tanto em território e população quanto em economia. O ex-presidente americano Truman dizia que para onde o Brasil vai, a América do Sul vai atrás. O Brasil não precisa fazer força para ser liderança. De maneira tanto positiva como negativa, somos considerados por nossos vizinhos como o pequeno gigante do sul. Até 1930 éramos uma grande fazenda e depois Getúlio Vargas promoveu uma revolução industrial, mas de 1980 para cá essa indústria foi sendo destruída passo a passo. Ainda assim, sobrou alguma coisa, e nós também temos recursos naturais extraordinários. Nos tornamos uma potência agrícola, temos muita água doce e temos uma matriz energética limpa potencial muito forte. Podemos nos colocar como uma potência energética nesse futuro eco, ambientalista, que já é presente. Então há muitos interesses aqui. Ao mesmo tempo, estamos no mesmo continente que os Estados Unidos. Mais uma vez, geografia é destino. Mas não estamos tão perto como o México, por exemplo, o que torna nossa posição interessante. Temos a saída para o Atlântico Sul, não temos para o Pacífico… Tudo isso é muito importante. Temos um dos maiores territórios do planeta e potencial para ser uma das 5 maiores economias do mundo. Já fomos a 6ª e, apesar de todo o desmanche dos últimos anos, hoje somos a 9ª. Mas somos também um dos mais desiguais do mundo, com uma herança escravagista muito forte. Ainda assim, talvez nenhum outro país tenha um poder cultural de influência que se compare ao nosso. Tem a ver com o nosso tamanho, nosso peso no mundo, nossa diversidade, nossa natureza. Nossa diplomacia é muito competente e muito respeitada. Nós fazemos fronteira com 10 dos 12 países do Cone Sul e não temos problemas significativos com nenhum deles. O Brasil é um país que não entra em guerra. Os Estados Unidos é um país extremamente bélico, a Europa, a Ásia. Então a nossa imagem é de mediadores e passamos uma ideia de alegria para o restante do mundo. Nossa música é muito bem quista no mundo todo, a cultura popular brasileira, a miscigenação, o samba, o futebol – que é o esporte mais popular da Terra. Produzimos de Pelé à Santos Dumont e daí à Chico Buarque, Tom Jobim, Carmem Miranda, Machado de Assis, Guimarães Rosa. Nós temos um patrimônio cultural muito grande. O livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém, de Paulo Nogueira Batista, fala justamente que o Brasil tem vocação para ser grande. E é impressionante essa coisa que o Brasil tem com o mundo e que o mundo tem com o Brasil. Mas esse momento histórico nos é muito propício. Todas essas condições são estruturais, a gente não precisa fazer força porque isso tudo já é nosso. Estruturalmente, o Brasil está colocado na velha ordem: estamos do lado do Atlântico, estamos na América. Somos identificados com a Europa, fomos colônia de Portugal e, de certa maneira, também da Inglaterra e depois dos EUA. Sobretudo uma colônia mental, espiritual, como diria Gilberto Freire. Mas o Brasil também é a África, nós somos africanos. Não é exagero dizer que Lula e Celso Amorim descobriram a África. O governo Lula abriu embaixadas na África como se não houvesse amanhã. Se considerarmos a África como um único país, naquela época ela se tornou nosso 4º maior parceiro comercial – só atrás dos EUA, Argentina e China. Conseguimos fazer um eixo sul-sul. Nos aproximamos de países árabes também de uma maneira inédita. Criamos o G20: uma frase de efeito na época do Celso Amorim era “O G8 morreu”. O G8 não conseguia responder à crise de 2008, e o Brasil, a Índia e a China criaram o G20. Todas as principais reuniões econômicas passavam pelo G20, que reunia os 8 e mais os emergentes. Foi extraordinário. E então Brasil e Rússia criaram os BRICS. Nós somos o único país das Américas que está aí e o novo mundo – o mundo da China e, em alguma medida, também da Rússia – é o mundo dos BRICS. A Rússia na verdade pegou uma carona, porque é o mundo chinês que nós estamos vivendo. Como diria Giovanni Arrighi, o dinheiro não está nem em Londres, nem em Washington, está em Pequim. E não tem mais volta: o centro gravitacional, para o sistema financeiro e econômico do mundo, já foi para lá. Desloca porque todo o resto vai atrás do capital. Marco Aurélio Garcia, que era o assessor de política externa de Lula, Samuel Pinheiro Guimarães, que era o chefe do Itamaraty, e Celso Amorim, que era ministro das Relações Exteriores, trabalharam muito bem. Os BRICS ganharam muita força, mas hoje… Mike Pompeo, que foi secretário de estado do Trump, escreveu um tuíte na última semana do governo Trump onde dizia que a maior vitória da política externa deles foi tirar o “B” e o “I” dos BRICS. Depois do golpe brasileiro, da eleição de Bolsonaro e da ascensão de Modi na Índia, Brasil e Índia se afastaram – mas os BRICS não morreram. Por outro lado, os chineses têm uma coisa interessante: eles não pensam no longo prazo, mas no longuíssimo prazo, e é difícil pensar assim. Por exemplo: o projeto das novas rotas da seda tem 145 países. A China está cercando o mundo. Os americanos não conseguem ver que o mundo mudou e, enquanto eles falam de sanções, os chineses falam de construções. Além disso, a China não intervém na política externa de outros países. Quando falamos no papel do Brasil nesse interregno, não se trata de nos aliarmos aos chineses ou aos russos – isso seria uma estupidez –, mas jamais aos americanos. Historicamente eles já provaram o que fazem com os aliados. É o que estão fazendo com a Ucrânia, foi o que fizeram com Guaidó. Eles lavam as mãos. Então é preciso que o Brasil tenha uma política externa independente, e nós podemos fazer isso. Estamos geograficamente do lado de cá, mas estamos nos BRICS e podemos fazer isso com muita sabedoria. E acredito que Lula consegue fazê-lo como ninguém, porque ele é um hábil conciliador. Esse é um momento em que você não pode bater de frente com ninguém, precisa falar com os dois lados. Bolsonaro é um inepto, já provou que não tem política externa. Ele conseguiu brigar com os dois! Com Biden porque Bolsonaro é trumpista, e com a China através de manifestações beligerantes como os tuítes de Ernesto Araújo e Ricardo Salles. Bolsonaro brigou com os dois principais parceiros comerciais do país. Mas esse é um momento muito especial, e essa transição pode deixar o Brasil muito bem. Lula e Celso Amorim sabem disso e esse momento é ainda melhor do que o vivido pelo governo Lula. Embora caótico, temos mais liberdade e espaço. Se soubermos jogar com sabedoria, coragem e prudência, podemos nos sair muito bem. O mundo está carecendo de grandes lideranças – a última liderança ocidental foi Angela Merkel. Biden é tido por alguns como o líder mais fraco de toda a história dos EUA. E Lula, indubitavelmente, foi uma liderança mundial. Ainda é. A recente recepção dele na Europa, México e América-Latina fala por si mesma. Lula saiu da cadeia maior do que entrou. É um momento interessante para o Brasil.

Por Instituto Racionalidades

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