Carta para Fabiana

Renata Lobato Schlee – Doutora em Educação Ambiental

24.2.22


Amiga,


Diante de um amanhecer “atropelado” por mísseis russos, insisto em manter meu anoitecer…

Na memória, viva e focada, um tempo-espaço que me levou madrugada adentro, ao inusitado da existência. De nossa existência! Essa desafiadora tarefa de estar a espreita… sempre a espreita. Mantendo-se vigilante e observadora nesse diagrama de possibilidades que é, que se faz no existir, que é a existência.


Assumir-se no “jogo” da vida. Uma complexidade que atravessa modos de ser, atravessa nossa estética do/no existir, evidenciando nosso “leite” ético. Almodóvar, com sua mirada, com suas películas, com seu olhar preciso, aquele de quem se faz existir na espreita, sempre nas entranhas do existir… é (sempre) capaz de dissecar o ético-estético que nos movimenta. Perfeito!

Sim! A vida não se cala. Encontra brechas sempre, escorre pela “teta”; viraliza camisetas feministas; brota em nossas sementes bebês; destaca modeles trans; abre covas; engata passado e futuro, e, se faz política. A cena da vida, sempre política. Sempre política, num presente fugaz. Sempre política, num presente – movimento… A vida não se cala! Não se cala nunca, mesmo o silêncio, é voz.

Na perspicácia do autor, não estruturamos fixamente o macropolítico e micropolítico. Mergulhamos nas tramas desse jogo que nos faz seres cotidianos de um tempo presente. Instantes alegres, difíceis, ordinários, básicos, exclusivos, tristes, absurdos, potentes… não importa, e são como o “clic” da máquina fotográfica. Tentamos pegar o tempo, guardar o vivido, (guardar o vivo?), na cena que é sempre política. Somos chamadas a pensar em nossos padrões e modelos. No quanto estou, ou não estou a espreita, na com-posição política que faz meu tempo presente.


Com mulheres à frente, mulheres que “seguram” mulheres, mulheres lado a lado com a juventude, mulheres lado a lado com a velhice da memória, mulheres carregam homens. Sim! Carregam desde o ventre. Tanto aqueles que inventaram as “covas” do filme, mas também os que “vivem” nas fotografias carregadas por elas.


Essas mulheres querem os que estão dentro das covas! Dessas covas! Essas são as mulheres que estão a espreita… são aquelas que querem o futuro, dão seu ventre, carregam seus frutos, acompanham suas parceiras, chamam pra batalha micropolítica que implica modelos macros… e, escavam o tempo, escavam o passado, passam a limpo sua existência, vasculhando esse passado… um passado…


Sabendo que (é) isto, talvez, possa fazer o melhor “clic” do presente…

Pra ti amada amiga amada, minha admiração e amor.


Estamos juntas, vivendo nosso presente… Continuemos a espreita…


Renata

Por Instituto Racionalidades

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