Sobre o curso
Você já ouviu falar que o Brasil é um paraíso localizado entre os trópicos? Você sabe como se formou esse imaginário e o que ele tentou maquiar?
Desde a colonização, a ideia de que o Brasil é um verdadeiro paraíso nos trópicos determinou os rumos de nossa história. O imaginário paradisíaco esteve na base de nossa organização política, econômica e cultural, como bem nos mostrou Sérgio Buarque de Holanda.
Somos conhecidos como o país do samba e da mulata. Temos o carnaval mais bonito e nossas paisagens é uma das mais belas do mundo. Entretanto, como será problematizado neste curso, somos um dos países que mais matam LGBTQIA+, somos marcados pelo racismo e machismo estruturais. Entre nós, impera um imaginário que sexualiza os corpos, que os reduzem em objetos sexuais, principalmente os corpos femininos, em especial, o corpo da mulher negra.
Para além disso, impera entre nós uma elite política que há séculos tem dominado a esfera pública, gerando uma das sociedades mais desiguais do planeta. Sendo assim, é fundamental conhecer a história do país, voltando ao passado para entender que nada é natural ou orgânico em nossa história e que, portanto, tudo pode ser mudado ou desconstruído, alimentando a esperança de um país melhor, mais justo e menos violento e intolerante.
Objetivo geral
Este curso tem como objetivo fazer uma introdução à história do Brasil moderno, discutindo historicamente as principais características da sociedade brasileira em suas mais variadas dimensões, tais como a política e a cultura. Trata-se de, numa linguagem introdutória e acessível ao grande público, voltar ao passado procurando entender o que nos tornamos hoje, a fim de problematizar e desconstruir imaginários, práticas políticas ou códigos morais que insistem em se fazer presentes naquilo que nos constitui como povo ou nação, na contemporaneidade.
Objetivos específicos
1- Problematizar a ideia de paraíso, que tem marcado a história do Brasil, desde a colonização.
2- Entender as características sócio-político-culturais da colonização brasileira, pensando-as para além das características da modernidade europeia.
3- Analisar as principais características políticas, culturais e sociais do império brasileiro, dando visibilidade ao conceito
4- Problematizar as interpretações sobre as “raízes do Brasil”, propostas por Paulo Prado, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, priorizando experiências de vida (políticas ou culturais) de outros sujeitos que foram silenciados na história oficial brasileira, tais como indígenas, escravizados, mulheres, etc.
5- Entender as características gerais da República brasileira, da proclamação aos dias atuais.
6- Propor uma introdução geral à história do Brasil dando visibilidade a sujeitos, eventos, insurreições, levantes e protestos que permitam entender o Brasil para além da colonialidade do poder.
Programação do curso
Módulo 1: Inventando o paraíso: O Brasil dos primeiros tempos
Aula 1 – Paraíso nos trópicos e o olhar colonial pornográfico
A aula faz uma breve introdução à ideia de paraíso, engendrada pelo cristianismo, abordando suas principais características. Num segundo momento, pergunta-se em que medida essa ideia estruturou o sistema colonial brasileiro, prestando atenção às características básicas de tal sistema. Em sua parte final, a aula problematiza a colonização brasileira com base no conceito de “olhar colonial pornográfico”, empreendido pela antropóloga feminista Rita Segato.
Aula 2 – Máquina de moer carne: o Brasil como fetiche
O colonizador europeu, desde o primeiro contato, definiu os nativos americanos como uma imensa massa de subumanos, com costumes bárbaros e comportamentos agressivos a uma civilização que eles [os europeus] imaginavam pertencer. Nesta direção, a aula aborda os primeiros choques entre colonizadores e povos nativos, analisando como o olhar colonialista transformou o Brasil em um fetiche. Analisa-se, também, as consequências desse olhar fetichizador, afinal, “fetichizar” o outro significa colocá-lo em menoridade, esvaziar suas singularidades para pensá-lo sempre em oposição, numa atitude polarizada de superioridade e inferioridade. Polarização esta que atuou sobre os povos nativos como uma verdadeira máquina de moer carne, produzindo massacres e genocídios.
Módulo 2: A invenção do Brasil moderno
Aula 3 – Escravidão: o espetáculo da dor e do terror no Brasil imperial
A aula aborda as principais características da escravidão no Brasil, seus espetáculos de dor, medo e terror. Pergunta também pela emergência de um racismo que desde então foi entranhado na cultura brasileira, se apresentando como estrutural em nossa sociedade até os dias atuais.
Aula 4 – Paraíso independente: independência para quem?
O objetivo principal da aula é analisar as características básicas da independência do Brasil, que em 2022 completa 200 anos. Trata-se de entender como se deu esse processo, e quais foram os sistemas de exclusão gerados. A aula será norteada por perguntas como: a independência política significou também independência social, cultural? O fim do colonialismo representou o fim da colonialidade do poder?
Aula 5 – Alegria e tristeza brasileiras: Inventando as raízes de um país miscigenado
A aula analisa as principais interpretações do Brasil propostas por Paulo Prado, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, prestando atenção a conceitos como miscigenação, sexualidade, erotismo, dentre outros, na história do Brasil. Dizer que somos um país marcado pela miscigenação serviu como esteio para criar o mito da democracia racial no país. Nesta direção, a aula questiona, também, o que esse mito esconde, as múltiplas formas de violência, racial ou sexual que marcam a história brasileira desde seus primeiros tempos.
Módulo 3: Paraíso a contrapelo
Aula 6 – O som de outros gritos: ideias para adiar o fim do Brasil
Descrição: A aula faz uma introdução geral ao olhar crítico de autores brasileiros que pensaram e pensam o Brasil a contrapelo, como Carolina Maria de Jesus, , Ailton Krenak, Davi Kopenawa, dentre outros.
Aula 7 – Paraquedas coloridos e a invenção de um outro Brasil
Descrição: A aula dá prosseguimento às discussões propostas na aula anterior, seguindo, dando prioridade ao pensando de Davi Kopenawa e Juliana Borges. A aula é um convite à provocação e à imaginação de como pensar saídas para o Brasil, rompendo com medidas potentes de ação tanto o racismo estrutural que nos define, como as violências patriarcais e misóginas que persistem em nossa sociedade. A aula é um chamar atenção ao fato de que é possível e real criar, com paraquedas coloridos, um outros Brasil, mais justo e igualitário.
Público-alvo
Interessados em História, História do Brasil, Filosofia. Estudantes de graduação e pós-graduação em Ciência Humanas e Sociais. Curiosos em geral.
Referências
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