Sobre o curso
Você sabe o que significam políticas de vida ou de morte? Conhece os conceitos de biopolítica e necropolítica? Sabia que em sociedades racistas esses tipos de política estão muito presentes na nossa concepção de segurança pública mobilizada pela branquitude?
Atualmente as discussões sobre necropolítica, branquitude e racismo estrutural têm emergido na ordem discursiva, mobilizando pensamentos e oportunizando a oitiva de discussões há muito produzidas pelo Movimento Negro, mas estrategicamente silenciadas.
Mas você já pensou sobre o seu papel nessas discussões? Já se perguntou como a necropolítica se estruturou na nossa sociedade e como é possível pensar a morte como uma estratégia de governança histórica? Ou ainda: como os debates sobre branquitude atravessam o seu cotidiano de pesquisa, de sala de aula, suas relações pessoais?
Pensando nisso organizamos esse curso, buscando agenciar conceitos como os elencados acima, aproximando-os das práticas cotidianas, a fim de compreendermos, na esteira de Achille Mbembe, os múltiplos afluentes que nos atravessam e nos tornam sujeitos, como nos ensinou Michel Foucault. Para tanto, traz-se o campo da segurança pública como o vetor da discussão, sem limitá-la neste espaço, tendo em vista o embasamento teórico que se ramifica e mobiliza o pensamento em outras áreas do conhecimento.
Objetivo geral
O objetivo deste curso é trazer uma discussão sobre necropolítica e governamentalidade no contexto brasileiro, mirando, mais precisamente, o campo da segurança pública.
Objetivos específicos
1- Apresentar discussões sobre relações raciais e suas metamorfoses no contexto brasileiro;
2- Contextualizar o pensamento de Michel Foucault e Achille Mbembe;
3- Enfrentar o silenciamento da população branca e o pacto narcísico firmado para a mantença de privilégios
4- Problematizar o campo da segurança pública e a construção de políticas públicas envolvendo os marcadores raça e juventude.
Programação do curso
Módulo 1: Por que falar sobre relações raciais no Brasil contemporâneo?
Aula 1- Raça e suas dimensões teórica, social e política;
Aula 2 – Performances de silenciamento e distorção sobre a racialidade branca;
Aula 3 – Racismo estrutural e a organização democrática.
Módulo 2: Necropolítica, biopolítica e a gestão governamental
Aula 1 – O pensamento de Michel Foucault, enfatizando, especialmente, a perspectiva biopolítica
Aula 2 – O pensamento de Achille Mbembe e as discussões sobre necropolítica;
Módulo 3: “Pacto narcísico” e a mantença de um estado de exceção
Aula 1 – O “pacto narcísico” e a mantença do privilégio branco em diferentes ambientes;
Aula 2 – Luta antirracista? Problematizando verdades e a atuação do Estado nessa composição.
Módulo 4: Segurança pública, políticas de segurança pública e genocídio da população jovem negra
Aula 1 – Algumas considerações sobre o campo da segurança pública brasileira e suas discussões sobre raça e racismo.
Aula 2 -As metamorfoses do racismo nos diplomas legais e instituições no campo da segurança pública;;
Aula 3 – Políticas públicas e políticas de inimizade na gestão da segurança pública brasileira;
Aula 4 – Raça e juventudes na mira da segurança pública: discricionariedade, autoritarismo e gestão da morte e da vida no presente
Público-alvo
Estudantes em geral, curiosos e interessados nas discussões sobre relações raciais e sociologia da violência.
Referências
ADORNO, Sérgio. Políticas Públicas de Segurança e Justiça Penal. Cadernos ADENAUER IX, 2008, n. 04. Disponível em: https://www.kas.de/c/document_library/get_file?uuid=d2bb6335-895d-78cb-70c1-0c3be4c8e919&groupId=265553. Acesso em: junho de 2019.
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro, Pólen, 2019.
ALVAREZ, Marcos César. A criminologia no Brasil ou como tratar desigualmente os desiguais. In.: Dados. Revista de Ciências Sociais. vol. 45, n 4º. Rio de Janeiro, 2002. p.p. 677-704. Disponível em: https://nev.prp.usp.br/wp-content/uploads/2014/08/down068.pdf. Acesso em: janeiro de 2018.
AQUINO, Luseni. A Juventude como foco das políticas públicas. In.: IPEA. Instituto de Pesquisas Sociais Aplicadas. Juventudes e Políticas Sociais no Brasil. CASTRO, Jorge Abrahão de; AQUINO, Luseni Maria C.. de; ANDRADE, CARVALHO, Carla Coelho (Org.). Brasília, 2009.
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 1764. [Online]. Disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/delitosB.pdf . Acessado em: outubro de 2017;
BENTO, Berenice. Necrobiopoder: quem pode habitar o Estado-nação? Cadernos Pagu. nº 53, 2018. s/p. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/cpa/n53/1809-4449-cpa-18094449201800530005.pdf . Acessado em: 02/03/2019;
BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamento e Branquitude no Brasil. In.: BENTO, Maria Aparecida Silva; CARONE, Iray (Org). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. p-p. 25-58;
BRASIL. Lei 7.210, Lei de execuções penais, promulgada em 11 de julho de 1984. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm . Acessada em: março de 2020;
BRASIL. Atlas da violência, 2019. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/19/atlas-da-violencia-2019 . Acessado em: novembro de 2019;
BRASIL. Plano Juventude Viva: um levantamento histórico. Secretaria Nacional da Juventude. Brasília: SNJ, 2018;
CARDOSO, Lourenço. A branquitude acrítica revisitada e as críticas. In.: MULLER, Tânia M. P.; CARDOSO (org). Branquitude. Estudos sobre a identidade branca no Brasil. 1ª ed. Curitiba: Appris, 2017. p-p.33-52;
CARVALHO, Salo. O encarceramento seletivo da juventude negra brasileira: a decisiva contribuição do poder judiciário. In.: Revista da Faculdade de Direito UFMG. n. 67, jul-dez. Belo Horizonte, 2015. p.p: 623-652. Disponível em: https://bradonegro.com/content/arquivo/12122018_111430.pdf. Acesso em: setembro de 2019.
CORRÊA, Mariza. As ilusões da liberdade: a escola Nina Rodrigues e a Antropologia no Brasil. 2ª Ed. Bragança Paulista: Editora da Universidade de São Francisco, 2001.
FBSP. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. 2019, ano 13.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da Sociedade: curso no Collége de France (1975-1976). Tradução de Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2005.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Tradução Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1990.
FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008a.
FOUCAULT, Michel. Segurança, Território e População. Curso dado no Collège de France (1977-1978). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008;
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: o nascimento das prisões. Tradução de Raquel Ramalhete. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.
FRANÇA, Fábio Gomes de. Disciplinamento e Humanização: a formação policial militar e os novos paradigmas educacionais de controle e vigilância. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal da Paraíba. 2012. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/7285/1/arquivototal.pdf. Acesso em: setembro de 2021.
GARLAND, David. A cultura do Controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Revan, 2008;
GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Racismo e antirracismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, 2005;
HASENBALG, Carlos. Discriminação e desigualdade raciais no Brasil. 2 ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005;
MBEMBE, Achille. A crítica da Razão Negra. Tradução de Marta Lança. Lisboa: Antígona, 2014.
MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Tradução de Renata Santini. 2ª Ed. São Paulo: n-1 edições, 2018.
MBEMBE, Achille. Políticas da Inimizade. Tradução de Marta Lança. Portugal: Antígona, 2017.